ABSTRACT
This interview shows
the considerations of architect Roberto J. Goulart Tibau in the present-day
production of architecture in São Paulo State. The institutions
responsible for the design and construction of schools have been substituted
since the decade of the 50s, but Tibau persisted like a bridge between
the succeeding generations of architects in the project of public schools.
Key Words: school
architecture, standardized components, project management.
Palavras-Chave:
arquitetura escolar; componentes padronizados; gerenciamento de projetos.
1 Mestrando pela Universidade
de São Paulo e Universidade Estadual de Londrina e professor no curso
de Arquitetura e Urbanismo da Unimar.
Introdução
O arquiteto Roberto
J. Goulart Tibau, pioneiro na arquitetura escolar no Estado de São
Paulo atua neste setor desde o convênio escolar entre o estado e
a prefeitura de São Paulo. Os órgãos responsáveis
pelo projeto e construção de escolas foram sendo substituídos
desde a década de 50, porém Tibau permaneceu como ponte
entre as gerações de arquitetos que se sucederam no projeto
de escolas públicas. Como pudemos ver em nosso trabalho de mestrado
ele ainda está atuante e sua arquitetura reflete tanto a sintonia
com o tema como com a própria evolução da arquitetura.
Seu projeto dá sinal de efetiva contemporaneidade na linguagem
arquitetônica, revelando que sua verve permanece com muita energia
sendo um exemplo para a inspiração dos arquitetos jovens
e em formação. Nossa conversa foi uma aula que sintetizou
a produção de arquitetura escolar do estado em mais de meio
século. Produção essa na qual ele tomou parte em
posição de prestígio, renovando sempre o desafio
do projeto da escola pública.
EMEF Pref. José
Carlos de Figueiredo Ferraz. Plano Ano1 do Banco Mundial. FDE - Fundação
para o Desenvolvimento da Educação.
Projeto arquitetônico
de Roberto J. Goulart Tibau. Consolidada opção de arquitetura
para escolas, aliada a uma linguagem contemporânea revelada pelos
ícones utilizados. A composição plástica harmoniosa
é composta por volumes bem proporcionados. As paisagens de fundo
dos desenhos são aleatórias.
Entrevista com Roberto J. Goulart Tibau
1 Convênio Escolar
O convênio escolar não tinha toda essa estrutura da FDE,
mas o convênio tinha toda uma programação que foi
muito bem colocada pelo Hélio Duarte e dava um bom grau de liberdade
para os arquitetos projetarem, mas o Hélio procurava controlar
o aspecto econômico do projeto. Nesse sentido, inclusive, ele tinha
alguns atritos com os arquitetos que não concordavam muito com
essas coisas. Porque o Hélio, talvez até levasse arquitetura
por um lado muito econômico. Você pega os projetos dele, são
de uma simplicidade, uma coisa bastante despretensiosa. São escolas
que tem uma implantação muito bonita, tem espaços
interessantes mas são bem singelas em termos de construção.
Despretensiosas. Mas em compensação você vê
um cara como o Corona por exemplo, já dá uma arquitetura
mais interessante mas totalmente diferente no espírito. Mas o convênio
escolar não durou muito tempo, depois passou a ser já um
órgão da prefeitura. Quando ele foi criado ele era uma coisa
independente onde podia-se trabalhar melhor. Eu trabalhei muitos anos
lá no tempo do Hélio sem nunca ter visto um processo. Eu
recebia um terreno, o programa da escola, conversava, ia visitar o terreno,
comentava o programa e já partia para o projeto. Então papelada,
burocracia não existia. Estar respondendo processo, estar atendendo
coisas. Não tinha nada disso e era muito bom viu? Um ambiente de
trabalho muito bom. Depois da saída do Hélio, saiu o Corona,
o Osvaldo Gonçalves, o Mange. Só eu fiquei.
Então teve uma época em que eu estava sozinho no convênio.
Depois começaram a entrar outros arquitetos, formados ao mesmo
tempo: o Aluísio Rocha Leão, o Arruda, o Pitombo. Então
fui eu que estabeleci uma espécie de ponte entre o convênio
original e a turma nova que ia entrando.
2 Fundação para o Desenvolvimento
da Educação
( Pergunta )
Vamos falar do órgão FDE, que já foi CONESP, que
já foi Departamento de Obras, essa cultura do projeto de escolas
desde o convênio escolar e como é que ela se desenvolve?
Existe realmente uma cultura , porque a sensação que a gente
tem com todos aqueles manuais da FDE é que estão se empilhando
anos de elaboração.
( Resposta )
É mas estão mesmo, eu acho que é um trabalho muito
importante, mas também eles tiveram muita dificuldade. Tiveram
épocas, muito a contragosto, e até hoje, de usar projetos
padrão, para colocar em terrenos onde é possível
colocar o padrão, embora que a escola até certo ponto, como
o programa é repetitivo, o programa sendo repetitivo o padrão
é perfeitamente razoável, não é? Eu acho que
não seria, se houvesse essa possibilidade de se estudar a escola
com liberdade não é? Pensar a escola como uma coisa mais
inovadora. Em termos de atividade mesmo, otimização dos
espaços. Porque a própria escola do jeito que ela funciona
aqui, ela é muito mecânica, movimentação. Vai
pra lá, vem pra cá, eu creio. Cada espaço tem um
uso perfeitamente estabelecido. O que não pode é sair muito
daquilo. Agora eu acho, eu sou um admirador do trabalho do pessoal da
CONESP em termos de pegar uma experiência que vinha do passado,
aproveitar até certo ponto aquela experiência e colocar por
exemplo a questão da modulação dos ambientes permitindo
todo um esquema que permite a eles um controle melhor dos projetos. Um
órgão que está projetando escolas para serem feitas
por tudo que é canto, em grande quantidade, o problema da quantidade
pesa muito, então esse órgão tem por obrigação
ter um controle dos projetos. Ele não pode deixar o projeto como
uma coisa totalmente liberada. E eu acho que eles tem um trabalho muito
importante nesse sentido, e que se caracterizam certas fases, em que eles
foram mais para o lado do projeto padrão mesmo, conceitos sobre
como fazer projetos padronizados, assim de maneira que você possa
fazer a implantação do padrão. A idéia
essencial do componente que ainda não está industrializado
mas está normalizado. Isso aí eles desenvolveram muito
bem. Eu acho que eles fizeram um trabalho pioneiro nesse sentido. No convênio
a gente não tinha um trabalho elaborado dessa forma.
3
Projeto Padrão
Eles tiveram um trabalho muito bom a nível de planejamento, distribuição
das escolas, da rede escolar e eu acho que eles tiveram também
experiência em fazer padrões mais flexíveis que possam
ser adaptados a várias situações.
Se o terreno permite o uso de um padrão, então eles fazem
a implantação, mas aí, não é jogar
de qualquer jeito, eles contratam um profissional para estudar a implantação,
fazer um trabalho interessante, porque, aí, a implantação
se torna muito importante. No caso de projetos que não são
padrão, a implantação está vinculada à
própria concepção do projeto, não se destaca
tanto. Mas no caso do projeto padrão, ela adquire uma importância
muito grande, a maneira como esses blocos são colocados no terreno,
a topografia, orientação, acessos, uma volumetria interessante
que se possa conseguir, não é? Uma série de coisas
que são características dessa problemática do projeto
padrão. Mas eles também tiveram que enfrentar épocas
em que a administração, lá da cúpula, queria
o padrão, padrão mesmo, pá, pá, pá,
pá. Só vai tocando aquilo né? De qualquer jeito aí.
4 Liberdade Projetual
Fizeram experiências nesse sentido de deixar uma possibilidade de
liberdade maior de projeto, mas sem perder o controle dimensional da obra.
Você não pode deixar livre, tem que estar dentro de uma proporção
determinada , não é? Então eu acho que esse sistema
modular é importante porque ele permite um controle mais rígido
dos protótipos dos vários ambientes que já estão
detalhados, permite um detalhamento mais aprofundado de detalhes padrão,
aqueles volumes. Você vai fazer um projeto da FDE, você tem
mais trabalho é de ficar folheando aquelas folhas e ficar procurando
o que compõe. É diferente de quando você está
projetando com liberdade, aí a cozinha surge com o projeto. Ali
não, a cozinha tem que ter exatamente aquelas medidas, porque aquelas
bancadas já estão todas detalhadas, né? E por outro
lado, eles tem também a barra da parte construtiva porque eles
fazem uma seleção de materiais, eles já tem toda
uma especificação padronizada. O próprio orçamento
é padronizado, as fichas tudo. Então se você quiser
usar um material novo você até pode, mas você tem que
justificar muito bem o uso desse material porque ele vai trazer depois
uma complicação no setor de orçamento, porque não
tem como saber o preço daquele material. Sabe é um negócio
muito organizado assim. E no Plano Ano 1 eles permitiram essa abertura.
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Licitações
Agora o que está surgindo é o seguinte com esse processo
de licitação. Se você apresenta determinada escola
e aparece 3 ou 4 projetos muito bons e um deles vai ser construído,
às vezes não é o melhor porque entra junto proposta
orçamentária, não sei que mais, pois é uma
fórmula complicada, mas isso é uma coisa que eles conseguiram
porque de qualquer forma é importante porque eles continuam podendo
manter um certo controle dos projetos. Então isso permite manter
um nível de projeto bom e um controle da parte deles porque essas
propostas são avaliadas segundo critérios do FDE. Então
pode ser um projeto muito bom mas se de repente ele é um projeto
muito espaçoso, que ocupa muita área que encarece por isso
ou por aquilo, já está fora do critério. Eu acho
importante ter critérios definidos para avaliação
de projetos.
Mas o que eu estava dizendo é que atualmente está se pensando
um modo de se criar uma espécie de arquivo de projetos interessantes
que eventualmente possam ser utilizados em certas situações.
Pagariam para fazer a implantação do projeto. Mas talvez
seja meio complicado. Eles é que poderão ver como é
que uma coisa dessas vai... mas que dá vontade de aproveitar um
projeto desses dá, porque são idéias interessantes
que existem ali. Se não dá para usar o projeto para aquela
escola, que se possa usar mais adiante. Porque tem esse inconveniente,
não é? Eles não podem pagar como se fosse um concurso
fechado em que cada concorrente que é convidado recebe um pagamento,
um pró labore. Então o cara acaba fazendo de graça
o que do ponto de vista profissional, ético, é um negócio
meio, não é? É um concurso aberto, só que
não é bem um concurso também. Eu não sei,
não é um concurso de projeto. É uma concorrência.
Sempre o menor preço vai influir também. Então por
mais que a gente faça, a gente quando escolhe a melhor proposta
técnica, nunca tem assim uma certeza de que aquele realmente vai
ser o escolhido, que o projeto vai ser executado, se de repente no cálculo
final da média das coisas, ele possa ficar prejudicado, embora
tenha um peso maior a proposta técnica, tudo isso, mas eu digo
por exemplo na prefeitura onde não foram tomados esses cuidados
não foi introduzido esse critério da pontuação
técnica. Ali é o menor preço. Os projetos teriam
que ser julgados pelo menor preço.
De acordo com a lei, toda licitação é assim. Então,
currículo também é uma coisa difícil de analisar.
São currículos muito diferentes, muito díspares e
tem que dar uma chance para o pessoal novo também, não é?
6 Qualidade
Enfim, eu acho que foi um passo que foi dado para a frente, na FDE, mas
que ainda, porque na prefeitura por exemplo a gente sabe que isso ainda
não foi feito, o nível de projeto ficou uma coisa lamentável
a prefeitura faz até umas escolinhas boas bem projetadas, o pessoal
lá é equipadíssimo, tem bons arquitetos trabalhando
lá. Mas os projetos que eles fazem na base de licitação
são terríveis. Projetos muito mal detalhados, depois o construtor
acaba tendo que refazer tudo aquilo. E você vai ver lá entre
os concorrentes, se quiser pegar um projeto de escola a grande maioria
não é de arquitetos. São firmas de engenharia, eventualmente
até algumas possuem algum funcionário arquiteto, mas onde
o projeto fica uma coisa muito secundária. E também não
tem todo esse nível de exigência em termos de apresentação
do trabalho, elaboração material do projeto, porque a FDE
tem inclusive isso tudo programado, elas tem toda uma linguagem estabelecida.
Eu acho importante isso aí viu? Amarrar essas coisas, como se indica.
Eles fazem todas as indicações necessárias na planta
para que o cara possa construir direitinho não é? E o projeto
fica um negócio fácil de você ver, todas as referências,
que permitem a eles exigir do profissional que o projeto esteja dentro
daquelas normas de execução. Então é o detalhe
padronizado, é a padronização gráfica de apresentação
de informação, e é o programa padronizado.
Aí é que eu acho que podia ter uma certa abertura. Assim
como a gente fez esse palquinho na nossa escola, no Plano Ano 1, porque
a imaginação do arquiteto tem mais liberdade de propor certas
coisas, mas não sei muito bem como fazer isso, porque tem que ter
um controle orçamentário muito grande.
7 Fiscalização
Acho que deveria haver mais incentivo para que os arquitetos comparecessem
à obra. Porque todo arquiteto gosta de acompanhar seu projeto.
Porque também é uma questão de sistemática
do trabalho, lá realmente tem que ser uma coisa: o projeto está
aqui, tá aqui, não se mexe mais uma vírgula, vai
até o fim. Não pode se ficar fazendo modificações
no projeto. Nem o próprio arquiteto pode ficar mudando o projeto.
O projeto é o projeto. Mas em compensação o arquiteto
chega numa obra, se tiver um problema qualquer, só de olhar assim,
não precisa nem olhar a planta, ela já detecta que aquilo
está errado, está mal feito, os cara não estão
entendendo o projeto. Ele percebe que não está havendo previsão
de certas coisas, eu acho que é sempre bom o acompanhamento para
ver se a obra está seguindo o projeto corretamente. Não
é? Ou se, realmente surgiu um problema que precisa de uma solução
é necessário que o arquiteto esteja ali para resolver junto
com os técnicos e tal e dar uma solução que não
comprometa o projeto.
Eu acho meio difícil de conseguir e por outro lado as escolas ficam
em lugares muito retirados, difícil de o cara ir até lá.
Para achar o terreno para fazer a vistoria é um pesadelo, você
acha por milagre e depois você vai porque está tudo ali:
os mapinhas, você vai perguntando, mas se agora de repente eu quisesse
ir lá, até essa escola eu ia bater a cabeça. É
difícil encontrar os terrenos e de repente você chega lá
e é um ilustre desconhecido.
Entrevista concedida em 22/09/2000.
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