Introdução
Interessa-nos agora não só a arquitetura dos edifícios,
mas também uma arquitetura de relacionamento de edificações
e espaços livres de uso coletivo e público; uma arquitetura
de composição do cenário da vida coletiva, dos espaços
de permanência (reunião) e dos espaços de movimento
(circulação); uma arquitetura dos espaços urbanos.
(RODRIGUES, 1986, p.14)
O atual estado de
deterioração dos centros tradicionais da maioria das grandes
cidades Brasileiras e a tendência clara da ocorrência deste
fenômeno nas cidades de porte médio , mesmo onde este ainda
não ocorreu, avaliza a importância de pesquisas relativas
ao assunto..
Algumas capitais já direcionam esforços no sentido de iniciar
a recuperação do centro da cidade. Com a proliferação
de Shopping Centers no interior do estado esta preocupação
deverá se estender as cidades de menor porte.
Segundo BRUNA, 1989, p.97
...a proliferação de shoppings em locais periféricos
em relação à tradicional área central das
cidades certamente tenderá a acentuar a preferência da população
por estes novos empreendimentos, em detrimento do centro da cidade, que
assim esta fadado à desvitalização. Daí a
necessidade de as municipalidades envidarem esforços para a recuperação
das áreas centrais, como já ocorrem em algumas cidades brasileiras,
incentivando porém ainda mais, devido a seu grande sucesso, a apropriação
das vantagens urbanísticas difundidas pelos shoppings procedendo
então a reabilitação de edifícios antigos,
à pedestrianização da circulação preferencial
de compras, ...
Este trabalho estuda um edifício inserido na malha do centro urbano
de uma cidade de porte médio e sua relação com esta
cidade e sua população, bem como seus desdobramentos . A
pesquisa mostra uma intervenção com programa de galerias
comerciais numa cidade do interior do Estado de São Paulo e suas
interferências sociais , econômicas e urbanas, procurando
traçar também um paralelo entre o centro urbano tradicional
e o Shopping Center , considerando a participação da Galeria
Comercial surgida de uma reconversão na área central da
cidade.
O espaço habitado constitui fonte de informação indispensável
a realização de novos espaços, inclusive porque da
apropriação do espaço pelo homem muitas vezes resulta
a mudança da forma, ou reforma .
Segundo SEGAWA, 1997, p.191
A questão pós-moderna abriu as sensibilidades e a
tolerância com a diversidade de posicionamentos, com a apreensão
e a compreensão de outras formas de instrumentar o raciocínio
do projeto. Fenômenos percebidos mundialmente aportavam entre os
arquitetos brasileiros: a percepção da falência de
panacéias arquitetônicas (soluções supostamente
válidas para todas as realidades), o maior diálogo com o
contexto urbano ou o ambiente natural na implantação dos
edifícios, o reconhecimento da história como referência
projetual, a revalorização da reciclagem de edifícios
como atitude de preservação cultural, a produção
do espaço como resultado de uma colaboração entre
arquitetos e usuários,...
Desenvolvimento
Raizes Históricas
...o momento
passado está morto como tempo, não porém
como espaço;... (SANTOS, 1997, p.10)
As tradicionais passagens
cobertas ou galerias comerciais, com suas coberturas em estrutura metálica
com fechamento em vidro, surgiram na França, mais precisamente
em Paris no ano de 1800 quando foi costruída a primeira delas,
a Panoramas, que abrigava um conjunto de lojas sofisticadas
: lojas de modas, antiquários, cafés e restaurantes entre
outros.
O enorme sucesso da Panoramas desencadeou quase que imediatamente a construção
de outras cinco galerias, e em 1840 já eram mais de cem só
em Paris. Em pouco tempo haviam galerias por toda a Europa e depois pelo
mundo todo.
Tratava-se de, como enfatiza GRAEFF, 1995, p.65 edifícios
inteiramente novos, quer enquanto programas de necessidades, quer enquanto
aplicação de materiais e técnicas construtivas antes
desconhecidas, e quer enquanto experiência insólita de agenciamento
espacial urbano.
Empreendimentos destinados a disponibilizar áreas de venda para
um novo público de consumidores, as galerias exploravam os espaços
interiores abertos das quadras através da criação
de caminhos de pedestres nestas áreas. Segundo HERTZBERGER, 1996,
p.77 O conceito de galeria contém o princípio de um
novo sistema de acesso no qual a fronteira entre o público e o
privado é deslocada e, portanto, parcialmente abolida; em que,
pelo menos do ponto de vista espacial, o domínio privado se torna
publicamente mais acessível..
Neste período surgiram também as lojas de departamentos
(o grande magazin francês) ; seu embrião foi a inauguração
em 1852 de uma pequena loja de venda a varejo com o nome de Bon Marché
, em Paris ; SENNETT, 1998, p.180 explica que A loja se baseava
em três idéias inéditas. A margem de lucro de cada
item seria pequena, mas o volume de mercadorias vendidas seria grande.
Os preços das mercadorias seriam fixos e claramente marcados. Qualquer
pessoa poderia entrar nessa loja apenas para olhar, sem sentir qualquer
obrigação de compra.. A loja de departamentos surge
em conseqüência da Revolução Industrial, da substituição
do artigo feito a mão pelo feito a máquina , com um programa
novo que redimensionou o comércio (e consequentemente a arquitetura
dos espaços comerciais) em escala mundial .
A própria loja
Bon Marché em 1860 construiu sua nova sede , a primeira loja moderna
construída em ferro e vidro, com espaços de um grande armazém
atacadista, considerado na época como modelo de elegância
(Arquiteto L. A. Boileau e Engenheiro Eiffel , o da torre) .
O
Contexto
A contextualização
supõe o levantamento da memória ambiental encontrada na
documentação de arquivos, bibliotecas, jornais, revistas,
fotos antigas é importante saber como foi determinado ambiente,
que usos estimulou, que histórias, que fatos agasalhou. Essa volta
ao passado nada tem de nostálgica ou pitoresca; ao contrário,
para se conseguir penetrar mais profundamente na analogia do presente,
é necessário buscar propositalmente o passado. (FERRARA,
1986, p.34-35)
No prédio de
numero 83 da Rua Assembléia , na cidade do Rio de Janeiro, foi
fundada em 1912 uma filial dos estabelecimento Mestre & Blatgé
de Paris.
Quatro anos depois, setembro de 1916, o francês Luiz La Saigne,
subgerente da filial desta firma em Buenos Aires foi
convidado a tomar conta da filial do Brasil, sucursal muitíssimo
pequena na época, que viria a se tornar uma das maiores organizações
comerciais da América do Sul, reconhecida pelo nome composto pelas
iniciais da Mestre & Blatgé: Mesbla, fundada pelo Sr. La Saigne
a partir da antiga filial da antiga organização Francesa
transformada, em 1924, em Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos
Mestre et Blatgé , que em 1939 passou a denominar-se Mesbla S.A..
No ano de 1950, já estabelecidas nas capitais dos Estados Brasileiros,
a Mesbla S.A. envia o Sr. Miguel Guzzardi para a cidade de Marília,
interior do Estado de São Paulo, com a finalidade de instalar ali
um escritório de vendas, o segundo em todo o Pais .
Marília, cidade então com pouco mais de vinte anos , contava
com uma população de quase 40.000 habitantes e tinha sua
história ligada à ação civilizadora da produção
de café. Em agosto deste mesmo ano começava a funcionar,
em uma sala alugada no pavimento superior do Edifício do Banco
do Estado, localizado na principal avenida da cidade ( Av. Sampaio Vidal),
um escritório de vendas ao varejo e principalmente ao atacado.
A pujante economia
do Município na época, baseada na agricultura; acarretou
vendas tão promissoras que levaram a direção da Mesbla
S.A., poucos meses após a instalação do escritório
de vendas, a decidir pela abertura de uma loja no município.
Em fevereiro de 1951, a Mesbla abria as portas de sua loja filial da cidade
de Marília num edifício alugado, localizado na esquina da
Rua 9 de julho com a Rua Mauá, a duas quadras da Avenida principal
( Centro Social, econômico e político da cidade ) .
O edifício
da década de 40, de propriedade do Sr. Miguel Granito Netto, construído
para abrigar a Agência Internacional, caracterizava-se
por linhas retas e despojadas, encimado por platibanda escondendo os telhados,
e uma esbelta marquise protegendo as grandes aberturas envidraçadas
e a porta de entrada localizada no chanfro da esquina. Contava com dois
pavimentos em sua parte localizada junto a Rua 9 de julho. O pavimento
térreo era ocupado pela empresa, que comercializava eletrodomésticos
,peças automotivas e caminhões; além do serviço
de oficina. No pavimento superior distribuíam-se várias
sala para aluguel ocupadas por dentistas e outros profissionais, com acesso
por uma escada independente pela Rua Mauá.
A Mesbla instalava-se então em parte do pavimento térreo
onde funcionava a agência Internacional, que manteve ainda na outra
metade o funcionamento de sua oficina . Tratava-se de um salão
com boa altura, o que permitiu a execução de um mezanino
em madeira em parte da área para abrigar as atividades administrativas
da loja , bem como o escritório de vendas ao atacado.
Eram ofertados uma grande variedade de produtos para atender as necessidades
de uma região em expansão: utilidades do lar , eletrodomésticos,
equipamentos de refrigeração, geradores, armas e munições,
bicicletas, barcos, automóveis, caminhões, tratores, peças
e acessórios, entre outros.
No ano seguinte (1952) a Mesbla S.A compra o prédio e passa a oferecer
também os serviços de oficina , ocupado onde funciona a
oficina da Agência Internacional.
Aos poucos também foi sendo desocupado o pavimento superior, que
se encontrava alugado , e ali passaram a funcionar as atividades administrativas
e escritório de vendas ao atacado. A partir de 1958, com a aquisição
da concessão da Ford pela Mesbla S.A , a filial de Marília
separa a oficina e a venda de automóveis, caminhões, tratores
e peças Ford, transferindo para um prédio alugado na Av.
Sampaio Vidal esquina com a Rua Paes Leme. Consequentemente a liberação
do espaço da oficina no prédio da loja permitiu, após
uma reforma, o remanejamento da área de vendas dos motores elétricos
,geradores e peças e acessórios (que não da marca
Ford) para este local, ficando o salão da esquina exclusivamente
para a exposição e vendas de utilidades domésticas.
Nos anos seguintes o prédio passou por diversas pequenas reformas
para acompanhar o dinamismo das atividades comerciais, até que,
no ano de 1962, passa por uma grande reforma, e em agosto deste mesmo
ano era inaugurada como a primeira Magazine Mesbla do interior.
A obra passava agora a ocupar todo o terreno da propriedade , além
de estender o pavimento superior para todo o prédio, mas mantinha
as linhas retas da edificação original, inclusive com complementação
das vitrines na nova área de fachada, modificada apenas no detalhe
das esquadrias do pavimento superior, que diferente do prédio original
agora mostravam vãos horizontais sobrepostos por brises verticais.
Construiu-se também um mezanino em nível intermediário
que ocupava apenas uma parte da construção, e tinha acesso
pelo patamar intermediário da escadaria principal.
A Magazine , então orgulho da população Mariliense
, contou com o primeiro sistema de proteção contra incêndios
com bombas de recalque e hidrantes na calçada no Município.
Constituiu-se numa loja de departamentos que ampliava a diversidade de
produtos da antiga loja , criando seções especializadas
de disco, perfumaria, moda masculina e feminina , confecções
infantis, eletrodomésticos, móveis, caça e pesca
etc...,alem de uma lanchonete com salgados e sorvetes ocupando o mezanino.
do comércio regional, recebendo consumidores e visitantes de várias
cidades como Lins, Assis, Bauru, Ourinhos e outras.
Com o passar do tempo, a lanchonete foi desativada para dar lugar a novos
departamentos de produtos. A Mesbla continuou sendo por décadas
parte ativa do comércio de Marília e região , orgulho
e ponto de interesse da população , lembrada e comentada
pelas suas decorações de Natal, pelo seu tradicional Papai
Noel que tanto povoou a imaginação dos pequeninos; pelos
concorridos passeios noturnos de ida e vinda na calçada da Rua
Mauá, apreciando as vitrines iluminadas cheias de novidades e sonhos,
famílias, crianças de colo, namorados de mãos dadas;
e as tranqüilas compras, bem a fatos e lugares, a cidade é
o locus da memória coletiva. ... ; o locus,
a arquitetura, as permanências e a história serviram-nos
para tentar esclarecer a complexidade dos fatos urbanos. (ROSSI,
1995, p.198)
Foi esta Mesbla que
a população viu estampada na primeira página dos
jornais do dia 28 de dezembro de 1990. Os jornais anunciavam uma decisão
da diretoria da holding, no Rio de Janeiro, de fechar definitivamente
as portas daquela que foi por 28 anos a única loja de departamentos
da cidade de Marília.
Com o maior faturamento comercial da cidade, dez mil e quinhentos clientes
cadastrados e cento e cinqüenta funcionários, estava sendo
desativada devido a época que coincidia com as festas de fim de
ano, e pairou sobre a cidade como uma nuvem negra pelos primeiros
meses do ano de 1991 .
O edifício fechado e abandonado do Magazine, referência maior
do comércio da Cidade, sinalizava como um decreto de falência
e agravamento das crises nos investimentos do município. Além
disso, com aproximadamente 140.000 habitantes, a cidade que já
aspirava, como toda cidade média, a ter o seu shopping center,
um ideal imaginário difundido pelo marketing, local de consumo
desejado como objeto de consumo, via-se forçada agora pela dura
realidade a retroceder seu sonho: Como ,uma cidade que não
tem potencial para manter funcionando uma loja de departamentos , poderia
pleitear um shopping ?
Restava agora o comércio tradicional do centro, com suas calçadas
apertadas, ruas movimentadas onde o pedestre muitas vezes tinha que concorrer
com os automóveis, e onde se deveria contentar com lojas desatualizadas
e poluição visual.
Quanto ao prédio da extinta filial Mesbla, nenhuma expectativa
de ocupação se poderia ter, já que não havia
na cidade empresa no ramo comercial capaz de absorver tamanha área
de construção (2773,00m2) , e nenhuma intenção
de empresas externas.
O Partido
...a paisagem compreende dois elementos:
1.Os objetos naturais, que não são obra do homem nem jamais
foram tocados por ele
2.Os objetos sociais, testemunhas do trabalho humano no passado, como
no presente.
...espaço e a paisagem que se transforma para se adaptar às
novas necessidades da sociedade. (SANTOS, 1997, p.37)
Neste contexto surge a iniciativa de um tradicional empresário
da cidade, Sr. Oswaldo Paschoal Anversa, ligado ao ramo de loteamentos,
que após negociação com a diretoria da empresa Mesbla
S.A. adquire o imóvel.
De posse deste, contrata
um projeto arquitetônico; a idéia era que, na impossibilidade
de negociar um edifício com tais dimensões, fosse este loteado,
permitindo então a participação de vários
investidores e a viabilização do empreendimento . O projeto
consistia em transformar o edifício numa galeria de lojas.
Foi elaborado procurando
respeitar as características mais marcantes da edificação
existente e seu relacionamento com a cidade : escala volumétrica,
vitrines externas e acessos principais. A proposta para a nova fachada
era uma sobreposição de gerações:
ao mesmo tempo que representaria o novo espaço, deixaria transparecer
a antiga fachada por entre o painel metálico.
O grande pé direito do pavimento térreo permitiu que as
lojas fossem propostas com aproximadamente 30 metros quadrados e acrescidas
por mezaninos. Já o pavimento superior, com pouca altura, não
permitiu a solução com mezaninos, gerando lojas com aproximadamente
60 metros quadrados.
As lojas eram distribuídas pelas circulações internas
de pedestres , complementadas com floreiras, bancos, fonte, ilhas
com cafés, sanitários para o público, para os funcionários
e sala da administração, além de um restaurante no
pavimento superior, num total de 51 unidades
Com o projeto pronto, foi elaborado um folder para que a equipe de corretores
pudesse colocar a venda as unidades, que seriam negociadas como um sistema
de condomínio, com escritura individual por unidade (um forte apelo
de vendas).
Os Desmembramentos
Quando uma história, um sinal ou um significado vêm
ligar-se a um objeto, aumenta o seu valor enquanto marco. (LYNCH,
1997, p.90)
Superando todas as
expectativas, em três dias todas as lojas foram negociadas, inclusive
gerando a partir daí uma extensa lista de espera com
nomes de interessados.
Pesava ai toda a história de um ponto comercial consolidado, de
tradição regional, identificado com a população
e o comércio tradicional, inserindo no centro da cidade, e próximo
ao terminal de ônibus urbano, diariamente lugar de convergência
de milhares de pessoas. Além disso passava, com o novo programa
proposto, a incorporar as expectativas do espaço imaginário
gerado pelos Shopping Centers.
O sucesso do empreendimento
resgatava o lócus, ao mesmo tempo em que realizava
o sonho de um espaço de consumo carregado de status.
O início das obras trazia ânimo e esperança a população,
que sentia o centro comercial renascer; expectativas de investimentos
e crescimento.
No dia 29 de novembro do mesmo ano (1991) era inaugurada com nome de Galeria
Atenas . Uma multidão se aglomerou em frente ao prédio para
assistir a solenidade. Durante vários dias o acesso de pessoas
teve que ser organizado por seguranças , tamanha a curiosidade
de conhecer o novo espaço.
A Galeria Atenas incorporava além das atividades comerciais uma
estratégia que oferecia a população atividades sociais,
culturais e de lazer, além de funcionar até as 22:00 horas,
animando aquela área do centro da cidade também no período
noturno.
Após alguns meses de funcionamento o empreendimento anexava, através
de arrendamento, uma área ao lado (pela Rua Mauá) de propriedade
da Fepasa, que passava então a servir como estacionamento, com
acesso por uma porta aberta na circulação do pavimento térreo.
Com a Galeria Atenas consolidada, é lançado em Marília
a negociação do Marília Shopping Center, empreendimento
da Zaremba Engenharia ( participou no Shopping Iguatemi S.P. 1966),
que trazia os conceitos de Shopping Center Regional no modelo rodoviário
americano. Localizado próximo a rodovia, seria um edifício
fechado envolto por uma gigantesca área de estacionamento, com
projeção de 26.000,00 metros quadrados num terreno de 75.000
metros quadrados.
O projeto contava
com lojas âncoras, cinemas, praça de alimentação,
centro de diversões, praça de eventos, hipermercado e mais
de cem lojas.
O empreendimento não foi viabilizado porque não houve aceitação
dos interessados em adquirir as lojas nos termos do contrato de vendas
das unidades. Conhecedores dos termos da Galeria Atenas ,que comercializou
as lojas no sistema convencional de condomínio e propriedade ,
não admitiram as condições que regem os Shopping
Center em relação a autonomia e propriedade das unidades,
além da participação no faturamento das
lojas
O sucesso da Galeria Atenas e a constante procura por suas unidades, sem
haver disponibilidade, geraram um novo empreendimento semelhante inaugurado
em 1995, denominado Shopping Alto Cafezal, que na realidade
consistia numa galeria comercial executada à partir da reciclagem
de barracões do antigo Pastifício Marília (Indústria
de Massas-Irmãos Raineri) , localizado à 200 metros da Galeria
Atenas. Com 57 lojas, centro de divertimentos, praça de alimentação,
estacionamento e um cinema, apenas este em pavimento superior, circulação
internas com iluminação natural zenital, passa a integrar
o circuito das pessoas que vinham ao comercio do centro da
cidade em busca de consumo e lazer.
O Shopping Alto Cafezal, diferentemente da Galeria Atenas,
é de propriedade de um único investidor, que cobra uma taxa
para ocupação do espaço e depois recebe um aluguel
mensal .
Aproximadamente na
mesma época do Alto Cafezal , foi comercializado o Shopping Aquários
com arquitetura nos moldes do Shopping Center tradicional: uma caixa
fechada em meio a uma ampla área de estacionamento, localizado
próximo à rodovia ,com lojas âncora, cinema, praça
de alimentação, centro de lazer e mais 100 lojas organizadas
por um mix.
A grande diferença deste com os Shoppings tradicionais está
no sistema de comercialização : uma obra vendida a preço
de custo num sistema de condomínio, unidades com escritura definitiva,
administrada por uma comissão de condôminos mais a incorporadora.
Em 1996 inicia a execução do Esmeralda Shopping, ocupando
uma quadra em bairro nobre da cidade, frente para uma avenida tradicionalmente
movimentada pela sua pista de cooper.
Trata-se na realidade de mais uma galeria comercial, nos mesmo moldes
de comercialização da Galeria Atenas. Hoje ainda em construção,
localizado a mil metros do Shopping Alto Cafezal, já
se esforça para integrar-se no circuito dos consumidores
do centro tradicional, Galeria Atenas e Alto Cafezal, através de
atividades no local da obra para atrair o público: exposições,
shows, decorações de Natal etc.
Hoje existe um circuito de consumo e lazer em que os pedestres
passam do centro comercial, pela rua interna da Galeria Atenas,
para o Shopping Alto Cafezal, pela rua interna do Alto Cafezal,
( e futuramente para o Esmeralda Shopping pela pista de cooper da Avenida
das Esmeraldas, pela rua interna do Esmeralda Shopping ),
evidenciando a inserção das galerias na malha urbana .
Referências
na Bibliografia
Sobre o Método
O lugar, nesta acepção em que foi redescoberto , está
longe portanto de se confundir com o espaço físico de implante
da construção ... ; de fato ele se cristaliza por assim
dizer impregnando, circunscrevendo, um espaço determinado
qualificando-o ao convertê-lo num fato único, sobrecarregado
de sentido (histórico, psicológico etc.), camadas de significação
que ultrapassam o ser bruto imediato. (ARANTES, 1995, p.124)
(Obs.: falando de Rossi)
O lugar como foco de significações coletivas reúne
tudo o que o estruturalismo tentou demolir: a história, a continuidade,
a memória, a tradição, a consciência (mesmo
coletiva) enquanto fonte irredutível de sentido enfim tudo
aquilo que faria o sujeito (o inimigo mortal daquele ideário) sentir-se
em casa, reconhecer-se nalgum monumento, na prática acumulada de
algum mundo de vida. (ARANTES, 1995, p.128)
A história de um ambiente, as mudanças sociais e econômicas
que sobre ele incidiram, as características físico-geográficas
que o caracterizaram ou que vieram a mudar sua aparência são
elementos que precisam ser levantados e levados em consideração
na montagem de um plano de leitura não verbal. Esse levantamento
primeiro e operacionalmente básico para a leitura chama-se contextualização.
(FERRARA, 1986, p.32)
Entende-se por LUGAR um espaço físico que adquire
conotações afetivas para aquela sociedade, através
da inter-relação homem/meio ambiente. (GOYA, 1996,
p.87)
A arquitetura tem, na atualidade, considerado a preservação
de construções não apenas por suas características
arquitetônicas relevantes, suas conotações históricas,
ou ainda por sua antigüidade. A preservação de construções
significativas como referencial dentro da paisagem urbana, e elemento
de ligação entre a cidade e seus moradores, apresenta-se
como uma maneira contemporânea de se enfocar a problemática
urbana. (GOYA, 1996, p.88)
Um maior humanismo na arquitetura depende de metodologias projetuais
fundamentadas numa melhor compreensão do inter-relacionamento entre
o homem e a paisagem construída, principalmente a níveis
psicológico, comportamental, social e cultural. (RIO, 1996,
p.18)
O primeiro passo refere-se à necessidade de contextualizar,
situar o lugar urbano em todas as suas particularidades. Essa contextualização,
desenvolvida sobre a forma de um levantamento, ... À contextualização
segue-se a desmontagem dos lugares urbanos em seus segmentos, a fim de
que a leitura os reconstrua de outras maneiras, pela surpresa que a revisão
pode sugerir. (RIO, OLIVEIRA (orgs.), 1996, p.67)
Sabemos ser possível a leitura dos processos
de organização social através dos signos da arquitetura
do edifício e da cidade. Como arquitetos e urbanistas indagaríamos
até onde o projeto transmite sua intencionalidade através
da forma e até quanto sua leitura pode ser feita pelo usuário.
(RODRIGUES, 1986, p.42)
...A crítica dos monumentos também pode articular-se
esquematicamente na seguinte classificação aproximativa:
a)análise urbanística, isto é, a história
dos espaços exteriores em que surge o monumento e que ele contribui
para criar;
b)análise arquitetônica propriamente dita, isto é,
a história da concepção espacial, do modo de sentir
e viver os espaços interiores;
c)análise volumétrica, isto é, estudo do invólucro
mural que contém o espaço;
d)análise dos elementos decorativos, isto é, da escultura
e da pintura aplicadas à arquitetura e sobretudo aos seus volumes;
e)análise da escala, ou seja, das relações dimensionais
do edifício relativamente ao parâmetro humano. ...
(ZEVI, 1996, p.54-55)
Sobre o Centro Urbano
...em 1951, o grupo inglês MARS apresenta como tema para o
Congresso a re-centralização da cidade dispersa pelo zoneamento
funcional moderno, através de um espaço físico
o coração da cidade em que se possa
manifestar o sentido da comunidade. (ARANTES, 1995, p.120-122)
A partir do começo do século XX...a Área Central
constitui-se no foco principal... . Nela concentram-se as principais atividades
comerciais, de serviços, da gestão pública e privada,
e os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos. Ela se
destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização. (CORRÊA,
1995, p.37-38)
Em razão de suas vantagens locacionais, o preço da
terra e dos imóveis é ai o mais elevado. Isto leva a uma
seleção de atividades. Localizam-se na Área Central
aquelas que são capazes de transformar custos locacionais elevados
e ampla acessibilidade em lucros maximizados: são as atividades
voltadas para um amplo mercado, nacional, regional ou abrangendo toda
a cidade. (CORRÊA, 1995, p.40)
...conflitos de percepção e a importância da
imagem das cidades ficam muito evidentes quando tratamos das áreas
centrais que, por estarem profundamente ligadas a lógicas históricas
e socioespaciais, se destacam em nossas percepções e vivências
das cidades. Castells (1971) observava que as principais funções
do centro urbano sempre gravitam em torno de duas noções:
a integradora (nível funcional e social) e a simbólica (nível
imagético e lúdico). O lugar central de uma cidade assume
papéis de centro inovador, simbólico e de intercâmbios,
características presentes nas expectativas de qualquer pessoa,
relativas a um centro de cidade e, por isso, fundamentais
para as imagens públicas da maioria das cidades. (RIO, OLIVEIRA,
1996, p.04)
As áreas
urbanas centrais são as que oferecem maior e mais diversificado
número de bens e serviços e por conseqüência
onde circulam e permanecem o maior número de usuários da
cidade, o que lhes confere ainda um caráter mais democrático
em relação a outras áreas pela interação
permanente entre habitantes de diferentes origens da cidade. (RODRIGUES,
1986, p.50).
Sobre a Carga Imagética dos Shoppings
...especialmente nos fins de semana, os shoppings se transformam
em cenários interclasses onde ocorrem os encontros, as paqueras,
as derivas, o ócio, a exibição, o tédio,
o passeio, o consumo do simbólico. (FRÚGOLI, 1991,
p.52)
Dado o agenciamento de equipamentos ligados sobretudo ao lazer,
criam também novas centralidades urbanas, sobretudo
para grupos jovens, que transformam tais espaços em significativos
locais de entretenimento, encontro e sociabilidade. (FRÚGOLI,
1995, p.80)
...os shopping centers aspiram a traduzir, num espaço fechado,
a utopia urbana que o capitalismo moderno não realizou para o conjunto
da sociedade: uma cidade ideal, repleta apenas de cidadãos
consumidores, sem vestígios de pobreza e deterioração,
uma cidade onde ... o consumo é simultaneamente
de mercadorias e imagens (FRÚGOLI, 1995, p.95)
...novos modos de vida e paradigmas buscados pela classe média,
insuflados pela sociedade de consumo. Seriam as novas condições
dignas de moradia ofertadas pelo subúrbio, as cidades-novas
onde tudo era corretamente planejado para nosso conforto,
as migrações das grandes empresas para maior eficácia
de sua atuação e de sua imagem, a nova forma de comprar
dos shopping-centers, entre outros fatores. Como conseqüência,
as áreas centrais se deterioraram física, econômica
e socialmente;... (RIO, 1990, p.20)
...não apenas à estrutura material da cidade, mas
também à idéia que temos da cidade como síntese
de uma série de valores. Concerne a imaginação coletiva.
(ROSSI, 1995, p.194)
Pode-se dizer que a evolução da forma, ligada primeiramente
a estruturas simples, a técnicas simples e muito mais tarde aos
progressos científicos, é agora função de
marqueting. (SANTOS, 1997, p.41)
(Obs.: Complementa Frúgoli, 1995, p.95)
Nos limites entre os quais é legitimo esquematizar um processo
histórico-crítico, frente a uma época ou a uma personalidade
artística, dever-se-ia, antes de mais nada, explicar os seguintes
dados:
a)Os pressupostos sociais. Todos os edifícios são resultado
de um programa construtivo. Este fundamenta-se na situação
econômica do país e dos indivíduos que promovem as
construções, e no sistema de vida, nas relações
de classe e nos costumes que dela derivam.
b)Os pressupostos intelectuais, que se distinguem dos anteriores por incluírem
não só aquilo que são a coletividade e o indivíduo,
mas também o que querem ser, o mundo dos seus sonhos, dos seus
mitos sociais, das aparições e das crenças religiosas.
c)Os pressupostos técnicos e, ...
d)O mundo figurativo e estético, ... (ZEVI, 1996, p.53-54)
Referente à loja de Departamentos e História
A acessibilidade, por sua vez, atraiu as nascentes lojas de departamentos
- uma criação visando distribuir uma gama enorme e crescente
de produtos industriais para um crescente mercado consumidor constituído
predominantemente por assalariados... (CORRÊA, 1995, p.39)
O Mappin Stores, instalado em 1913 ... constituiu inicialmente um
típico espaço de afluência das classes privilegiadas.
... dispunha também de salão de chá, posteriormente
transformado em restaurante, que constituía outro atrativo para
a tarde das elegantes paulistas.
A própria introdução da loja de departamentos acarretava
uma série de novos procedimentos modernizantes na região
(rejeitando a herança do mercado tradicional, que compreendia a
própria barganha ou pechincha como parte
constitutiva); expor os produtos de forma racional e organizada; entrar
na loja sem a obrigatoriedade da compra; concentrar as mercadorias e combiná-las
espacialmente de modo a promover também o consumo por impulso;
contar com técnicas publicitárias de divulgação
nos meios de comunicação, fixando desde promoções
até slogans para gravar a imagem junto ao consumidor.
Além disso, como no caso do chá do Mappin, aliavam a idéia
das compras ao lazer, ... (FRÚGOLI, 1995, p.26)
Os marcos, pontos de referência considerados externos ao observador,
são apenas elementos físicos cuja escala pode ser bastante
variável. Os mais familiarizados com a cidade pareciam tender a
confiar cada vez mais, como guias, nos sistemas de marcos, a preferir
a singularidade e a especialização às continuidades
anteriormente usadas. (LYNCH, 1997, p.88)
...devemos ver o passado como algo que encerra as raízes
do presente,... (DELLA VOLPE apud SANTOS, 1997, p.10)
Sobre
Galerias Comerciais e sua Inserção na Malha Urbana
Há uma série de vantagens a considerar na reunião
de pessoas para formar uma cidade. Uma família isolada no campo
não terá muitas hipóteses de ir ao teatro, ao restaurante
ou a uma biblioteca, enquanto que na cidade tudo isto passará a
estar ao seu alcance. Os reduzidos meios de cada agregado familiar multiplicados
por dezenas ou centenas de milhar permitem imediatamente a criação
de equipamentos colectivos. Efectivamente, uma cidade é algo mais
do que o somatório de seus habitantes: É uma unidade geradora
de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas
a preferirem independentemente de outras razões viver
em comunidade a viverem isoladas. (CULLEN, 1983, p.09)
...assim como a reunião de pessoas cria um excedente de atracções
para toda a colectividade, também um conjunto de edifícios
adquire um poder de atracção visual a que dificilmente poderá
almejar um edifício isolado. (CULLEN, 1983, p.09)
É atualmente
o shopping com o maior volume de freqüentadores e de faturamento
global em todo o país. ... próximo a vias de transporte
coletivo metrô, terminal rodoviário etc. e
com um projeto arquitetônico que incorporou signos presentes no
centro tradicional reciclados numa nova síntese, o Center Norte
possui um perfil de freqüentadores que vai das camadas médias
às populares. Esse público realiza em geral compras de menor
valor, mais adequadas às suas possibilidades, tendo como alternativa
o comércio tradicional das ruas. (FRÚGOLI, 1991, p.52)
...um processo de especulação imobiliária,
e a alteração constante dos referenciais urbanos despersonaliza
as cidades, fazendo com que seus moradores não reconheçam
mais sua cidade num espaço de poucos anos, ... A preservação
destas construções, representativas de nossa herança
urbana, é necessária para que possamos nos referenciar dentro
do ambiente urbano, e isto é fundamental para que os habitantes
se sintam emocionalmente seguros dentro da cidade. (GOYA, 1996,
p.87)
Embora os grandes
edifícios que tem como objetivo ser acessíveis para o maior
número possível de pessoas não fiquem permanentemente
abertos e ainda que os períodos em que estão abertos sejam
de fato impostos de cima, tais edifícios realmente implicam uma
expansão fundamental e considerável do mundo público.
Os exemplos mais característicos desta mudança de ênfase
são sem dúvida as galerias: ruas internas de comércio
cobertas de vidro, tais como as construídas no século XIX,
e das quais muitos exemplos marcantes ainda sobrevivem em todo o mundo.
(HERTZBERGER, 1996, p.74)
Em Paris, onde a galeria de lojas foi inventada e floresceu (ainda
existem muitas galerias, especialmente no primeiro e no segundo Arrondissement),
há três quadras consecutivas com passagens internas de ligação:...
(HERTZBERGER, 1996, p.75)
O princípio da galeria voltou a adquirir relevância
local quando o volume do trânsito nas ruas do centro das cidades
tornou-se tão pesado que surgiu a necessidade de áreas exclusivas
para pedestres, i.e., de um sistema exclusivo para os pedestres
ao longo do padrão existente das ruas. (HERTZBERGER, 1996,
p.76)
...uma área comum em um shopping center, por exemplo, pode
ser chamada de espaço ou ambiente semipúblico,
uma vez que, embora pertencente a um grupo privado empreendedor, é
usada para funções públicas, recebendo uma população
usuária que dela se utiliza, ... (ORNSTEIN, 1995, p.75)
A técnica de comercializar em shopping center se apoia no
oferecimento de um ambiente aconchegante e seguro, como sendo o desejo
máximo dos consumidores. ... Provavelmente o termo aconchegante
pode medir o conforto de sair de casa, mesmo sobre as piores condições
climáticas, chuva, vento e frio, ou excesso de sol e calor, e encontrar
um lugar seguro para estacionar e um ambiente protegido e quase sempre
climatizado... (ORNSTEIN, 1995, p.76)
Ao alterarem-se expectativas e comportamentos, os repertórios
imagéticos e as comunidades locais são fortalecidos, atraem-se
investimentos, amplia-se o consumo e cativam-se novos públicos
usuários, garantindo o sucesso financeiro da revitalização.
(RIO, OLIVEIRA (orgs.), 1996, p.06)
Considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa
diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é
o resultado de uma acumulação de tempos. ... A paisagem,
assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar
as transformações da sociedade. A forma é alterada,
renovada, suprimida para dar lugar a uma outra forma que atenda às
necessidades novas da estrutura social. (SANTOS, 1997, p.38)
...nos históricos sobre os estabelecimentos comerciais o
shopping center é apresentado como o corolário de uma gradual
evolução iniciada nos primitivos mercados e no comércio
de rua, passando pelas oitocentistas lojas de departamento. (SEGAWA,
1989, p.84)
Sobre
o Relacionamento Entre os Edifícios
No caso do conjunto, imaginemos o percurso do transeunte: ao afastar-se
pouco a pouco dos edifícios depara, ao virar de uma esquina, com
um edifício totalmente inesperado. É normal que fique surpreendido
ou até mesmo espantado; mas sua reacção deve-se mais
a composição do grupo do que a uma construção
específica. Imaginem-se agora os edifícios colocados de
maneiraa permitir o acesso ao interior do conjunto; então o caminhante
sentirá que esse espaço delimitado tem uma vida própria,...
(CULLEN, 1983, p.09)
...embora o transeunte possa atravessar a cidade a passo uniforme,
a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão
de surpresas ou revelações súbitas. (CULLEN,
1983, p.11)
(Obs.: Considera os aspectos movimento, localização e conteúdo,
para identificar como o meio-ambiente suscita reações emocionais.)
A avaliação deste item envolve a análise de
todos os caminhos, pavimentados ou não, para pedestres ou para
veículos, situados ao redor do edifício. O objetivo desta
análise é acompanhar a evolução das necessidades
de circulação externa do usuário ao longo da vida
útil do edifício. O resultado deste tipo de trabalho tem
demonstrado ser uma fonte muito rica de subsídios para intervenções
mais conscientes e seguras quanto a este aspecto.
O usuário, estando a pé ou utilizando veículos motorizados,
determina qual é a melhor opção que lhe satisfaz
para ir e vir e, em diversos casos, modifica o ambiente físico
construído em função de suas necessidades.
(ORNSTEIN, 1992, p.192)
Sobre
os Shopping Centers
...em sua evolução, a transformação
dos shoppings centers, em certos casos, tem em vista a sua complementação
com novas atividades, de modo que passem a ser multifuncionais
com hotéis, salões de exposições, escritórios
de profissionais liberais - , cercados por um entorno urbano preferencialmente
residencial, como parte ou não do empreendimento. O padrão
pretendido é o de uma área urbana central, porém
organizada espacial e urbanisticamente para proporcionar alta acessibilidade,
... (BRUNA, 1989, p.96)
O subcentro regional constitui-se em uma miniatura do núcleo
central. Possui uma gama complexa de tipos de lojas e de serviços...
. Muitas de suas lojas são filiais de firmas da Área Central...
. A magnitude destes subcentros depende da densidade e do nível
de renda da população de uma área de influência.
... a hierarquia acima indicada foi marcada, após a Segunda Guerra
Mundial, pelo aparecimento dos shopping centers planejados, localizados
em áreas que reúnem duas características: a forte
acessibilidade e o status social elevado de seus habitantes. (CORRÊA,
1995, p.51-52)
(obs.: Subcentros não foram analisados nesta pesquisa.)
...os shoppings
aspiram se tornar sucedâneos dos antigos centros comerciais tradicionais,
fazendo ponto nas áreas em que se instalam. (FRÚGOLI,
1991, p.52)
...um outro conjunto de usos do espaço, ... que vêm
trazendo uma série de mudanças em esferas como a do trabalho,
da moradia, do consumo e da circulação, destinados principalmente
às classes sociais de maior poder aquisitivo, e que, reunidos,
criam uma espécie de cidade à parte, articulada
de forma problemática à cidade já existente.
Essas mudanças metropolitanas dissolvem de certa forma a noção
tradicional de centralidade urbana, criam espaços privados
com algum tipo de acesso público, priorizam as classes sociais
mais privilegiadas e reforçam as desigualdades sociais. (FRÚGOLI,
1995, p.73)
Boa parte dos integrantes dessas classes médias, notadamente
aqueles situados num patamar de alto poder aquisitivo, integram-se cada
vez mais a um modo de vida que se traduz, nas metrópoles, num padrão
funcional caracterizado por uma espécie de circuito,
incluindo moradias fechadas, trabalho em complexos empresariais,
consumo de supermercados, shoppings, circulação em veículos
particulares, etc. Articula-se neles um modo de vida distinto, segregado
e diferenciado, evitando o máximo possível o contato com
espaços públicos e sua diversidade de grupos sociais.
(FRÚGOLI, 1995, p.76)
...os shopping centers, estabelecimentos que, surgidos nos anos
60, só tiveram um real crescimento a partir dos anos 80 nas cidades
brasileiras de maior porte, ... (FRÚGOLI, 1995, p.79)
...não se leva em conta a manutenção das características
topográficas do sítio de implantação. A
topografia não faz o desenho do edifício, diz ele.
E por isso é comum partir para grandes movimentações
de terra na fase de execução de edificações
do gênero. (OLIVEIRA, 1990, p.66)
...alguns dos shopping centers ... nada tinham a ver com o entorno
urbano em que se localizam. ... O que não quer dizer que ele seja
pernicioso. Mas é óbvio que ele altera o funcionamento do
entorno, muda comportamentos e influi em toda área, sob o aspecto
imobiliário. (OLIVEIRA, 1990, p.67)
..., bem protegida do perigo e da confusão das ruas, construindo
uma cidade intra muros. Se antes, vinte minutos eram gastos
para percorrer os pequenos shoppings de bairro; hoje, nos mega-shoppings,
leva-se pelo menos três horas. Um mesmo espaço concentra
não só um número incrível de lojas que vendem
toda a sorte de mercadorias como, também, parques de diversão,
centros médico, escritórios, repartições públicas,
bancos, restaurantes, cinemas, teatros etc, reproduzindo, aos poucos,
o papel do antigo centro urbano. ... Deste modo, os shoppings
fechados ... Ao voltarem-se para dentro, dão costas para as ruas
e espaços públicos, condenados ao esmaecimento de suas funções
originais. (RIO, SANTOS, 1998, p.114-115)
Nossas cidades
não tem mecanismos específicos para controlar o impacto
de um shopping center em suas superfícies habitáveis quando
se sabe da pretensão de implantar no mínimo um edifício
desse gênero em cidades com 100.000 habitantes ou mais. (SEGAWA,
1989, p.84)
...ele é um complexo equivalente a uma cidade,
envolvendo um leque de operações de manutenção,
segurança, custo, circulação, conforto etc., em sua
cruzada contra o comércio tradicional de rua. No Brasil, os shoppings
são verdadeiras cidades intramuros, mantendo uma áspera
conversação com o urbano concreto. À exceção
de algumas estruturas inseridas na malha urbana ... a grande maioria dessas
edificações são volumes cúbicos que poderiam
ser confundidos com edifícios industriais, ... (SEGAWA, 1989,
p.84)
Reflexões
...os postes de luz, os postes para placas de rua, um anúncio
publicitário, os suportes dos semáforos, os suportes das
placas de trânsito, o luminoso da loja, o out door, a banca de jornal,
a cerca da obra de esgotos, o telefone público e, a alguns metros
dali, o ponto de ônibus, também com sua publicidade. Uma
desintegrada e descoordenada multidão de objetos. Por mais bem
resolvido que seja cada elemento isolado, por melhor que seja seu design,
se não integrarem um sistema único, se não falarem
uma única linguagem, na melhor das hipóteses, o resultado
final será um caos bonitinho. (CAUDURO, 1992, p.28-29)
...diretrizes que possam ser adotadas para a preservação
do Patrimônio Arquitetônico, enfatizando as construções
indicadas pelos cidadãos como merecedoras de serem preservadas.
Pois acreditamos que qualquer projeto de preservação, além
de considerar os valores próprios de cada construção,
ligados as características formais, estéticas, documentais
e arquitetônicas, para ser bem sucedido deverá considerar
também a percepção do usuário em relação
a estas construções. (GOYA, 1996, p.86)
O programa traduz necessidades e aspirações formuladas
pela vida individual e social dos homens. (GRAEFF, 1986, p.19)
(Obs.: Sobre o programa de necessidades como condicionante de projeto.)
A facilidade de estacionamento, tantas vezes ressaltada, é
relativa, pois nas épocas de festas se torna mais fácil
estacionar próximo aos centros comerciais dos bairros e mesmo no
centro do que nos shoppings. Talvez a maioria dos freqüentadores
não seja nem de consumidores, no sentido estrito do termo, mas
pessoas carentes de lazer e de lugares para passear. (MONTEIRO,
1989, p.88)
...a zona comercial
da rua 25 de Março, em São Paulo, que, medida por
qualquer padrão de racionalidade, é um desastre. Lá
ha muita gente, gritaria, calçadas estreitas, trânsito permanentemente
engarrafado, degradação ambiental causada pela concorrência
das lojas, poluição visual, falta de segurança e,
no entanto, vende-se muito. O mesmo pode ser dito com variações
importantes, de todas as outras zonas comerciais, até mesmo
da sofisticada rua Oscar Freire. O lojista continua investindo na rua,
talvez até mais do que nos shoppings. (MONTEIRO, 1989,
p.94)
Será que a opção pela vida do lado de dentro,
ao mesmo tempo em que deixa a cidade menos pública, significa que
estamos perdendo a fé na possibilidade de uma urbanidade pública,
democrática, socialmente diferente e tolerante ? Optar pelo lado
de dentro implica investimentos e manutenção constantes
por parte de pessoas que podem pagar por isso, enquanto do lado de fora
as pessoas que não podem pagar sentem o descaso crescente para
com os espaços públicos da cidade. Um bom exemplo é
o desaparecimento de banheiros públicos; a classe média
e os executivos podem usar os banheiros de museus, galerias de arte, lojas
de departamentos e de restaurantes, mas o mesmo não é permitido
aos pobres e mendigos. (RIO, SANTOS, 1998, p.117)
Conclusão
Ao contrário dos planos e projetos de renovação
urbana que pressupunham um processo destrutivo precedente ao construtivo,
na busca por um princípio de ordem e uma totalidade racional
(Ferrara, 1988), a revitalização urbana é um conceito
bem mais abrangente. ... Trata-se de compor objetivos de desenvolvimento
aos de recuperação e preservação de estruturas
abandonadas ou deterioradas, ... (RIO, OLIVEIRA, 1996, p.05)
Não é
de hoje que existem preocupações com a deterioração
dos centros urbanos, porém apesar disso até hoje este quadro
continua a se agravar.
No que diz respeito a arquitetura dos espaços comerciais, os shopping
centers contribuem cada vez mais para o fato, mesmo tendo normalmente
em seu perfil usuários de faixas econômicas superiores.
Porém, não se pode creditar toda a culpa aos chamados templos
de consumo. Ele é apenas um item entre as muitas causas econômicas,
sociais e culturais que transformam a sociedade e seu meio-ambiente. No
comércio do centro das cidades geralmente faltam investimentos
e manutenção por parte dos lojistas e cuidados por parte
do poder público, o que reforça a idéia da qualidade
de vida dos shopping centers.
A pesquisa procurou tratar da contextualização (Ferrara)
do Lugar (Goya) (Rio), do Locus (Rossi), estendida a uma arquitetura não
necessariamente de grande valor plástico, mas de grande valor perceptivo,
programático, conceitual e dinâmico, além de grande
valor histórico no que se refere ao espaço como local de
convívio social.
Inserida no coração da cidade (Arantes), o espaço
mais democrático (Rodrigues) do Município de Marília
pela interação permanente entre cidadãos de todos
os seus pontos, a Galeria Atenas é fruto de uma atualização
programática em um edifício pertencente a memória
da cidade.
Analisando o impacto
de sua implantação, constatamos que ela direta ou indiretamente
desencadeou uma série de acontecimentos e fatos:
# Reativou a força imagética da área central.
# A reconversão do prédio da Mesbla e sua transformação
em Galeria Atenas, acompanhada de sucesso comercial, contribuiu para a
reconversão dos barracões do Pastifício Marília
e sua transformação em Shopping Alto Cafezal.
# O sucesso comercial da Galeria Atenas confirmou uma estratégia
de localização que implantou o Esmeralda Shopping:
instalou-se junto a seu público alvo.
# O modelo jurídico do empreendimento da Galeria Atenas viabilizou
as vendas do Shopping Aquários.
# O conjunto de investimentos
formado pela Galeria Atenas e os impulsionados por ela no centro urbano
é responsável por grande número de atividades sociais,
culturais e de lazer, além das comerciais.
# As galerias em funcionamento mantém o dinamismo de seu entorno
além dos horários normais de funcionamento do comércio
tradicional, e inclusive nos fins de semana.
Considerando que
as galerias são uma expansão considerável do mundo
público (Hertzberger) , a pesquisa identificou também o
percurso sistemático gerado pelos usuários entre o terminal
de ônibus urbano, ocentro comercial e as galerias; ao contrário
dos shoppings tradicionais, as galerias inseridas na malha urbana estimularam
o contato com espaços públicos e seus diversos grupos sociais.
Essa identificação, trabalhada como condicionante de projeto,
permitiria a adequação destes espaços urbanos em
seu entrelaçamento com as áreas semipúblicas (Ornstein)
das galerias e vice-versa , inclusive resgatando algumas das funções
urbanas das antigas galerias francesas.
A cidade de Marília conta hoje com uma população
de quase duzentos mil habitantes. O resultado da pesquisa sugere que numa
cidade de porte médio o reconhecimento da história como
referência projetual (Segawa) poderia identificar edifícios
capazes de, através de reconversões, atender a programas
arquitetônicos de galerias comerciais, orientadas de maneira a servirem
de ancoras na reanimação dos centros urbanos.
Sugere ainda que se possa identificar e expor fatores indutivos que contribuam
para reverter a atual tendência de deterioração dos
espaços dos centros das cidades, enfocando a arquitetura dos espaços
comerciais, seu inter-relacionamento e seu relacionamento com a malha
urbana e a dinâmica da cidade , de modo que o interesse privado
e o interesse público se complementem.
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