"COLAGEM
DE FRAGMENTO DENTAL, RELATO DE CASO"
" BOND DENTAL FRAGMENTS, REPORT OF CASE"
PFEIFER, Jesuânia Maria Guardiero Azevedo1
LOPES, Lawrence Gonzaga2
MOREIRA FILHO, Nelson3
QUAGLIATTO, Paulo Sérgio4
ANDRADE, Marcelo Ferrarezi5
Os autores relatam um
caso clínico de colagem de fragmentos dentários com um sistema
adesivo de 4°geração do tipo Dual (Scothbond Multi-Uso
Plus). A avaliação clínica após três anos
permite considerar a técnica em questão recomendável,
tanto com relação a facilidade de execução,
quanto ao comportamento clínico satisfatório das restaurações.
UNITERMOS: fragmento, adesivo, colagem, fratura.
O traumatismo em dentes
anteriores permanentes representam um problema para o paciente, seus acompanhantes
e o cirurgião-dentista, que deve estar apto a solucioná-lo
consciente de que a situação se reveste também de
um trauma emocional. Considerando os demais dentes, os incisivos centrais
superiores são aqueles que dominam a aparência física
do paciente20 e, portanto, os responsáveis
pela primeira impressão causada pelo indivíduo18.
De acordo com SLACK e JONES21, o comportamento de
uma criança bem como seu desempenho escolar e, principalmente,
sua estabilidade emocional pode ser afetada por fraturas ou manchas nos
dentes anteriores.
O aparecimento de novos esportes, alguns bastante violentos e o aumento
de acidentes automobilísticos, têm gerado numerosos casos
de fraturas nos dentes anteriores, principalmente em pessoas na faixa
etária de 6 a 15 anos 12. Cerca de 87% dessas fraturas atinge no
máximo dentina e, como observaram ZADICK e Cols.24,
os incisivos centrais superiores são os mais propensos ao traumatismo,
provavelmente pela sua posição vulnerável e a inadequada
proteção dos lábios.
O restabelecimento da estética e função de um dente
fraturado pode ser conseguido através de diversos tipos de restaurações
e dentre eles, a colagem do fragmento dentário vem se destacando
pelo seu caráter conservador1,2,4, 10, 12.
Várias técnicas aliadas a diferentes materiais como selantes,
resina composta, ionômero de vidro e sistemas adesivos, tem sido
recomendadas para a colagem de dentes.
A associação de selante e resina composta já havia
sido proposta por MEURMAN16, em 1974, quando em
1979, SIMONSEN19 sugeriu que antes da colagem fosse
realizado um bisel no ângulo cavo-superficial do remanescente e
do fragmento dental a fim de remover esmalte superficial, expor os prismas
transversalmente melhorando a adesão e mascarar a linha de união.
O autor aconselhou também a remoção da dentina do
fragmento para criar espaço para a mistura de resina composta e
selante empregada para a colagem propriamente dita.
Em 1982, SIMONSEN20 reviu a técnica por ele
anteriormente divulgada e recomendou que o bisel fosse realizado, agora,
na superfície interna do ângulo cavo-superficial vestibular
para evitar a exposição de resina composta nesta face.
Preocupados em melhorar a estética, FRANCO e Cols.12
sugeriram, em 1985, a confecção de um chanfrado na linha
de união e posterior restauração com resina composta
com a finalidade de mascará-la.
KUGA e NUNESlS, em 1988, indicaram o cimento de ionômero de vidro
como material para realização da colagem de fragmento dental.
Os autores relataram um caso em que executaram bisel no ângulo cavo-superficial
do fragmento e remanescente e removeram a dentina do fragmento para conter
o ionômero de vidro. Após a colagem realizaram o chanfrado
na linha de união e restauraram com resina composta.
Em 1989, EHRMANN9 descreveu uma técnica sem
bisel e com a colagem obtida com adesivo e resina composta.
BARATIERI e Cols. 1 , em 1990, defenderam a colagem
ressaltando que ao ser comparada com a restauração em resina
composta, apresenta estética melhor e mais prolongada, manutenção
da guia anterior em esmalte, resgate emocional e social do paciente, além
da técnica operatória ser mais simples e rápida.
Retomando o assunto, em 1995, BARATIERI e Cols.2
propuseram a colagem somente com sistemas adesivos e a não realização
de nenhuma manobra pós-operatória com o fim de mascarar
a linha de união. Na opinião dos autores, mesmo que ela
fique visível, é melhor do que desgastar estrutura dental
sadia.
Observando-se a sequência cronológica dos trabalhos apresentados,
nota-se que houve uma retração no emprego de técnicas
que desgastam a estrutura dental sadia, para dar lugar a outras mais conservadoras.
Assim, amparados na literatura, realizamos o caso a ser relatado que trata-se
da colagem de fragmentos dentários utilizando-se sistema adesivo
de 4° geração, um material cujo estágio atual
de desenvolvimento demonstra sua eficiência tanto no que se refere
às propriedades de retenção quanto ao aspecto biológico1.2.5.13.16.
Paciente jovem ( 15
anos), sexo masculino, apresentou-se à clínica de especialização
em Dentística Restauradora do Curso de Odontologia da Universidade
Federal de Uberlândia, tendo como queixa principal a fratura dos
incisivos central e lateral direitos (fig. 1 ) ocasionada por um golpe
de cotovelo em jogo de basquete. Portava consigo, em um vidro com água,
os fragmentos resultantes do traumatismo. Nessa ocasião, realizou-se
os exames clínico e radiográfico e constatou-se que a fratura
de ambos os dentes atingia esmalte e dentina (classe II), não comprometia
a vitalidade pulpar e não havia fraturas radiculares e nem envolvimento
do espaço biológico.
A colagem do fragmento dental foi a opção escolhida para
este tratamento por mostrar vantagens sobre as restaurações
em resina compostal.
Ao reposicionar-se
os fragmentos para determinação do grau de adaptação
dos mesmos aos remanescentes constatou-se que embora houvesse perda de
substância na interface de união, a alternativa de tratamento
através da colagem com um sistema adesivo era uma boa opção
devido a simplicidade, facilidade, rapidez e segurança que envolve
a técnica (figs. 2 e 3). Selecionou-se para tanto o Scotchbond
Multi-Uso-Plus* , um sistema adesivo que pode ser utilizado tanto na versão
fotopolimerizável como DUAL, ou seja, em conjnto com um catalizador
o que o torna quimicamente ativado5.
Profilaxia e isolamento absoluto do campo operatório foram realizados
e, em seguida, iniciouse o procedimento de colagem propriamente dita,
conforme a sequência descrita a seguir e com o material sendo utilizado
de acordo com as recomendações do fabricante 17. Cada etapa
foi efetuada tanto nos remanescentes como nos fragmentos e constituiu-se
de:
1. Aplicação do Scotchbond Ácido de Ataque (Fosfórico
35 % ) ao esmalte e dentina, durante 15", enxague e leve secagem
(fig.4).
2. Aplicação do Ativador ao esmalte e dentina, secagem leve
por 5" (fig. 5).
3. Aplicação do primer ao esmalte e dentina, secagem leve
por 5" (fig. 6).
4. Aplicação do Adesivo misturado com o catalizador. De
acordo com o fabricante, a solução resultante irá
polimerizar-se em aproximadamente 4-5 minutos à temperatura ambiente
ou em 2-3 minutos a 36°C (fig. 7).
A escolha desse sistema (DUAL) teve por objetivo garantir a polimerização
do adesivo nas regiões possivelmente não alcançadas
pela luz. Imediatamente após a aplicação do adesivo
DUAL (etapa 4), os fragmentos foram reposicionados e imobilizados junto
aos remanescentes com o auxílio dos dedos da mão, o que
facilitou a execução da técnica, pois, segundo FONTANA
e Cols. 11 , o posicionamento correto é muito crítico, devendo
até mesmo fazer-se um treinamento prévio para garantir a
precisão de adaptação.
Decorridos 5 minutos (polimerização química) procedeu-se
a fotopolimerização por 60" pelas faces palatina e
vestibular, para complementar a polimerização do adesivo.
Através das figs. 8 e 9 pode-se verificar os dentes com os fragmentos
já colados.
Concluída a colagem, optou-se pela confecção do chanfrado
na linha de união, com uma ponta diamantada esférica n°
1014* (fig. 10), com o objetivo de permitir uma estética melhor,
com a restauração em resina composta, já que havia
perda de estrutura dental. A restauração foi realizada com
Z100* *, uma resina composta do tipo híbrida (fig. 11 ).
Efetuou-se o acabamento e polimento da resina composta uma semana após,
pois de acordo com VAN NOORT e DAVIS23 e CHUNG6,
a ocorrência de microfendas, desgaste e manchamento é menor
quando o polimento é adiado por uma semana (figs. 12, 13).
Através da revisão da literatura podemos constatar que as
modalidades de tratamento para dentes anteriores fraturados consistiam,
tradicionalmente, em restaurações com cimento de silicato,
resina composta ou restaurações protéticas.
A colagem do próprio fragmento é uma proposta que por ser
conservadora vem se mostrando bastante viável e, portanto, descrita
e defendida por vários autores.
Com relação às manobras prévias à colagem,
embora SIMONSEN20 tivesse sugerido a confecção
de bisel externo e, posteriormente, interno no ângulo cavo-superficial
do fragmento e remanescente, nota-se hoje uma tendência marcante
em preconizar técnicas que evitem desgastes de estrutura dental
sadia, tanto pelo aspecto de sua conservação, como pela
maior precisão e facilidade de adaptação.
Com base nessas constatações é que realizou-se a
técnica por nós descrita, ou seja, adaptação
topo a topo do fragmento ao remanescente.
Quanto ao material empregado para colagem, as características do
caso permitiram o uso de um sistema adesivo 13, 14, o que tornou a execução
da técnica mais fácil e conservadora, uma vez que nessas
situações não há necessidade de desgastar-se
internamente o fragmento para conter o material, como seria o caso do
ionômero de vidro ou mesmo da resina composta. Além disso,
o não desgaste da estrutura dental permite a manutenção
de sua opacidade e translucidez naturaie e, portanto, uma estética
melhor pois não há interferência da coloração
do material de colagem, seja ele ionômero ou resina composta, fato
também ressaltado por BARATIERI e Cols. 1.
A confecção do chanfrado para mascarar a linha de união
é assunto de controvérsia7. Nesse
sentido, há aqueles que preferem conservar a estrutura dental sadia
em detrimento da estética. No entanto, a não ser que a justaposição
seja perfeita, não comprometendo a estética, concordamos
com aqueles que defendem a realização do chanfrado, mesmo
com o risco de manchamento e desgaste a médio e longo prazo, uma
vez que é mínima a quantidade de resina composta exposta.
Com o objetivo de comprovar a eficiência da técnica, exames
periódicos do caso relatado foram realizados e três anos
após a colagem é possível constatar, ainda, a retenção
do fragmento, manutenção da vitalidade pulpar e função.
Quanto ao aspecto estético, observa-se uma textura superficial
rugosa da resina composta, com perda de brilho da restauração,
o que pode, entretanto, ser facilmente re
parado (fig. 14).
A fratura de dentes
anteriores é uma situação emergencial acompanhada
de trauma emocional do paciente e seus acompanhantes. O aproveitamento
de fragmentos para a restauração, através de técnicas
adesivas é uma alternativa aos métodos convencionais e traz
vantagens como facilidade da execução além de promover
melhor resultado estético e, até o momento, sem nenenhum
efeito adverso.
The authors report a
clinic case where was used a forth generation Dual adhesive system (Scothbond
MultiUso-Plus) to bond dental fragments. These tecnique is recommendable
due to the satisfactory results obtained by both the use of the technics
and the clinic behaviour of the restaurations.
KEYWORDS: fragments, adhesive bond, fracture.
Fig. 1 - Incisivo
central ( 1 1 ) e lateral direito ( 12) fraturados.
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Fig. 2 - Verificação
da adaptação do fragmento ( 11 ).
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Fig. 3 - Verificação
da adaptação do fragmento ( 12).
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*3M
KG* Sorensen
3M** Dental
1 Professora Titular da disciplina de Dentística
Restauradora da Universidade Federal de Uberlândia e Doutora em
Dentística Restauradora.
2 Cirurgião Dentista, especialista em Dentística Restauradora
pela Universidade Federal de Uberlândia-MG.
3 Professor Titular da disciplina de Dentística Restauradora da
Universidade Federal de Uberlândia-MG, Mestre em Dentística
Restauradora
4 Professor Assistente da disciplina de Dentística Restauradora
da Universidade Federal de Uberlândia-MG, Mestre em Dentística
Restauradora.
5 Professor Assistente Doutor em Dentística da Unesp -Araraquara,
Coordenador do Grupo de Especialização da FAEPO - Araraquara
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